ESG: a Sustentabilidade e a Transformação das Exportações Brasileiras

 


Como a Sustentabilidade está impactando as exportações


Nos últimos anos, a pauta ESG (Ambiental, Social e Governança) deixou de ser apenas um diferencial de imagem e virou uma necessidade para garantir acesso e competitividade no mercado global. Para o Brasil, um dos maiores exportadores de commodities do mundo, essa mudança traz desafios, mas também abre portas para oportunidades estratégicas. As demandas por sustentabilidade estão mudando as regras do comércio internacional e afetando diretamente as empresas brasileiras.


O efeito dessas exigências se manifesta principalmente em quatro áreas:


1. Barreiras Não Tarifárias e Acesso a Mercados: consumidores e países mais exigentes, especialmente na União Europeia, estão criando legislações que funcionam como obstáculos para produtos que não comprovem sua origem sustentável. Dois exemplos importantes são:


• Regulamento da UE para Produtos Livres de Desmatamento (EUDR): vigente desde 2023, proíbe a entrada de commodities como soja, carne bovina, café, cacau, madeira, óleo de palma e borracha (e seus derivados) produzidos em áreas desmatadas após 31 de dezembro de 2020. Para atender a essa norma, as exportadoras precisam fornecer coordenadas geográficas precisas da origem dos produtos, elevando o nível de rastreabilidade na cadeia produtiva.


• Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM): também na União Europeia, esse mecanismo visa taxar produtos com alta pegada de carbono, como ferro, aço, alumínio, cimento, fertilizantes e hidrogênio. O objetivo é equilibrar os custos de produção relacionados às políticas ambientais entre países europeus e fornecedores estrangeiros. Exportadores brasileiros desses setores precisarão monitorar suas emissões de gases de efeito estufa (GEE) e relatar esses dados para evitar custos adicionais que possam tornar seus produtos menos competitivos.


2. Pressão da Cadeia de Valor: grandes empresas multinacionais estão repassando suas metas ESG para toda a sua rede de fornecedores. Assim, um exportador brasileiro que fornece insumos para uma marca europeia ou norte-americana passa a ser avaliado não só pelo preço e qualidade, mas também por suas práticas trabalhistas (Social), impacto ambiental (Ambiental) e transparência corporativa (Governança). Quem não se adequar corre o risco de perder contratos para concorrentes que estejam alinhados às novas exigências.


3. Acesso a Financiamentos e Investimentos: instituições financeiras e fundos de investimento estão cada vez mais direcionando recursos para empresas com bom desempenho em ESG. Títulos verdes ("green bonds") e linhas de crédito atreladas a metas sustentáveis (Sustainability-Linked Loans) oferecem condições mais vantajosas. Para o exportador, manter uma boa performance nessa área pode facilitar o acesso a crédito mais barato para financiar crescimento e inovação. Por outro lado, quem não estiver alinhado pode enfrentar custos mais altos ou dificuldades para obter financiamento.


4. Valorização da Marca e Preferência do Consumidor: em mercados mais sofisticados, consumidores finais estão dispostos a pagar mais por produtos certificados como sustentáveis. Isso abre espaço para empresas brasileiras que investem em ESG acessarem nichos premium, diferenciando-se pela qualidade e responsabilidade social — além do preço.


Principais Selos e Certificações Internacionais


Ter uma certificação reconhecida internacionalmente é uma das formas mais eficazes de demonstrar compromisso com práticas sustentáveis. Cada setor possui selos específicos que ajudam a comprovar esse compromisso e aumentar a credibilidade no mercado global.

As principais variam por setor:

Categoria

Selo/Certificação

Foco Principal

Setores Relevantes

Ambiental e Florestal

FSC (Forest Stewardship Council)

Manejo florestal responsável, garantindo que produtos de madeira e papel não venham de desmatamento ilegal ou exploração predatória.

Madeira, celulose, papel, móveis, embalagens.

Rainforest Alliance Certified

Proteção da biodiversidade, conservação de recursos hídricos e do solo, e melhoria das condições de vida dos trabalhadores rurais.

Café, cacau, chá, frutas, flores.

ISO 14001

Implementação de um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) eficaz dentro da empresa, focado na melhoria contínua e conformidade legal.

Aplicável a qualquer setor industrial ou de serviços.

Social e Comércio Justo

Fair Trade (Comércio Justo)

Garante preços justos aos produtores, condições de trabalho dignas, proibição do trabalho infantil e investimento em projetos comunitários.

Café, cacau, açúcar, algodão, artesanato.

SA8000

Padrão de certificação para condições de trabalho decentes, baseado em convenções da OIT e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Têxtil, confecções, manufatura em geral.

Orgânico

USDA Organic (EUA)

Proíbe o uso de pesticidas e fertilizantes sintéticos, organismos geneticamente modificados (OGM) e antibióticos na produção.

Alimentos, bebidas, cosméticos.

Selo Orgânico da UE

Padrões similares ao USDA Organic, sendo o requisito para exportar produtos orgânicos para o mercado europeu.

Alimentos, bebidas.

Sistemas Integrados (ESG)

B Corp (Empresa B)

Certificação que avalia o desempenho geral da empresa nas áreas de governança, trabalhadores, comunidade e meio ambiente.

Empresas de diversos setores que buscam um modelo de negócio de impacto.

GlobalG.A.P.

Boas Práticas Agrícolas, cobrindo segurança alimentar, rastreabilidade, bem-estar animal e gestão ambiental.

Frutas, vegetais, aquicultura.


Como as empresas brasileiras podem se adequar

Adaptar-se às demandas de sustentabilidade e responsabilidade social é um processo que vai muito além de conquistar um selo ou certificado. Trata-se de uma mudança cultural e operacional que deve estar alinhada com os objetivos do negócio e as expectativas dos seus stakeholders — clientes, investidores, reguladores.


Veja alguns passos importantes para ajudar sua empresa nesse caminho:


1. Diagnóstico e Matriz de Materialidade  

O primeiro passo é entender quais temas relacionados ao ESG (ambiental, social e de governança) são mais relevantes para o seu setor e para quem se relaciona com a sua empresa. Por exemplo, uma agroindústria precisa focar em questões ambientais como uso da água e manejo da terra, enquanto uma confecção pode priorizar condições de trabalho na cadeia de fornecimento. Essa análise ajuda a definir prioridades.


2. Implementação de Rastreabilidade  

Para cumprir regulações como a EUDR, a rastreabilidade da cadeia de suprimentos é fundamental. Isso envolve investir em tecnologias como softwares específicos, blockchain ou monitoramento por satélite para mapear toda a origem dos materiais, desde a produção até o embarque.


3. Engajamento da Cadeia de Fornecedores  

Nenhuma empresa consegue ser sustentável sozinha. É importante capacitar seus fornecedores e realizar auditorias para garantir que eles também adotem práticas responsáveis. Programas de apoio para pequenos produtores, transferência de tecnologia e contratos que exijam conformidade socioambiental são estratégias essenciais nesse processo.


4. Busca por Certificações Estratégicas  

Com base na análise de materialidade e no perfil do mercado, sua empresa deve identificar as certificações mais alinhadas ao seu negócio. Essas certificações não só agregam valor ao produto, mas também funcionam como um guia para implementar boas práticas.


5. Gestão de Dados e Relatórios Transparentes  

A era do “greenwashing” (alegações ambientais vagas) está ficando para trás. As empresas precisam coletar dados confiáveis sobre seu desempenho — como emissões de gases de efeito estufa, consumo de água e indicadores de diversidade — e divulgá-los de forma clara e transparente através de relatórios de sustentabilidade que sigam padrões internacionais, como o GRI ou o IFRS S1/S2.


6. Parcerias e Apoio Institucional  

Buscar apoio de entidades como a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) e a CNI (Confederação Nacional da Indústria), que oferecem programas de capacitação e consultoria para adesão às normas internacionais, pode acelerar bastante esse processo.


Resumindo: incorporar práticas ESG deixou de ser uma opção para os exportadores brasileiros — é uma necessidade vital para manter a competitividade no mercado global. Empresas que enxergam essa agenda como uma oportunidade de inovação, valorização da marca e fortalecimento da reputação estarão mais preparadas para conquistar mercados exigentes e rentáveis.


Mais informações (Canal Parceiro): 




Fontes Consultadas:

Confederação Nacional da Indústria (CNI) - Análises sobre CBAM e EUDR.  

• ApexBrasil - Programas de Qualificação para Exportação (PEIEX) e publicações sobre sustentabilidade.  

• Comissão Europeia - Documentação oficial sobre o European Green Deal, EUDR e CBAM.  

• Pacto Global da ONU no Brasil - Diretrizes para a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nas empresas.


Atualizado em 01/12/2025



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Recintos Aduaneiros

Regime de Drawback: Um Guia Simples para Exportadores

Notícias relevantes referentes à outubro de 2025 - efeitos do "tarifaço"